A partir de abril deste ano, chegam notícias sobre manifestações de rua e violência na Nicarágua. Apesar dessas chamadas jornalísticas, sabemos pouco sobre o uso de armas por franco-atiradores, como agem os grupos paramilitares e menos ainda sobre o cotidiano da sociedade civil e movimentos sociais nos últimos meses. Quanto ao tema ainda estamos no estágio de localizar a Nicarágua no mapa da América Central, próximo de Honduras e Costa Rica.
Manifestante protesta contra presidente da Nicarágua, Daniel Ortega 23/04/2018 REUTERS/Jorge Cabrera.
Foto: Agência Reuters
A situação pareceu um pouco mais próxima de nós quando os jornais destacaram o assassinato de uma brasileira estudante de medicina por lá. Mas o que sabemos sobre o desdobramento do caso, assistência a família pernambucana ou ação do Estado brasileiro? Mal lembramos o nome de Raynéia.
Somada a baixa informação, existe uma crença de que os manifestantes são pessoas manipuladas por interesses estrangeiros na Nicarágua, contrários a um governo revolucionário. Tal aposta desconfiada se justifica pela história política de Daniel Ortega, em outras experiências na região e até no uso oportunista da defesa dos direitos humanos e da democracia de longa data e por distintos interesses. Por conta desse cenário confuso que atinge a opinião pública internacional, incluso quem se reconhecem como de esquerda ou progressista, um grupo de pessoas saiu do país com o intuito de apresentar uma narrativa em primeira pessoa para quem desejar tirar suas próprias conclusões e dúvidas, e principalmente buscar o fortalecimento da solidariedade internacional. A caravana esteve no Chile, Uruguai e Argentina. E outros grupos foram a Europa e América do Norte em encontros de solidariedade com a Nicarágua.
No Brasil, a caravana de solidariedade está formada por Ariana McGuire Villalta (Coalizão Universitária pela Democracia e Justiça), Carolina Hernández Ramírez (Movimento Nacional contra a Mineração Industrial) e Yader Parajón Guitiérrez (Movimento Mães de Abril), que visitaram Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, com o suporte de uma arrecadação solidária de recursos.
Quem tiver a oportunidade de encontrar com o grupo, terá a chance de ouvir sobre o processo revolucionário nicaraguense e a mudança de rumo político nos anos 2000, com a eleição do atual presidente e toda a trajetória de alianças políticas para chegar e permanecer no governo. Isto é, entender além das cifras de mortes e desaparecidos.
O percurso da caravana convive com um olhar de desconfiança dos estrangeiros ao mesmo tempo em que vive o luto de familiares e amigos, a prisão política de mulheres e homens dos movimentos sociais ou ainda a incerteza sobre seus próprios destinos ao retornarem para a Nicarágua.
Por conta disso, pensei em encurtar a distância com três relatórios de referência sobre a questão. É válido para ampliar o diálogo sobre violações de direitos humanos e violência de Estado a partir da experiência nicaraguense. Especialmente ao sabermos que a publicidade do último relatório da ONU representou na deslegitimação do grupo de especialista e na retirada do convite para os observadores internacionais estarem no país.
#1- Relatório da ONU, Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh)
#2- Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)
#3- Relatório da Anistia Internacional
A importância desses documentos está em entender o conjunto de direitos em risco e a aproximação do uso da força contra manifestantes das execuções sumárias em um contexto de debilidade democrática. Mais informações sobre a Caravana de Solidariedade ver: